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segunda-feira, 9 de julho de 2012

A Alemanha tem que assumir o seu papel de líder


A Volkswagen espelha bem a pujança da economia germânica.

Uma empresa com um incrível e significativo número de marcas de automóveis: Bentley, VW, Audi, Ducati, Lamborghini, Scania, MAN, Skoda, Porsche, Seat, Bugatti. A Audi já é a marca mais vendida pela VW, com mais de 1,5 milhões de veículos em 2011.

Actualmente o valor de mercado do grupo Volkwagen ascende a 60 mil milhões de euros, cerca de 35% do PIB português. O PSI Geral, índice accionista nacional que agrega todas as empresas cotadas, tem um valor de mercado de 40 mil milhões de euros.
A Porsche SE, detida pelas famílias germânicas Porsche e Piëch e 10% pela Qatar Holdings LLC, é a principal detentora das acções ordinárias do grupo Volkwagen com 50%, seguida pelo Estado da Baixa Saxónia com 20% e pela empresa Estatal do Qatar (a Qatar Holdings LLC) com 17%. O valor de mercado das acções ordinárias corresponde a 40 mil milhões de euros.

A Toyota tem uma capitalização bolsista de 110 mil milhões de euros, a Daimler (Mercedes) de 40 mil milhões de euros, a BMW de 37 mil milhões de euros, a Ford de 30 mil milhões de euros, a General Motors de 25 mil milhões de euros, a Renault de 10 mil milhões de euros e a Peugeot de 2.5 mil milhões de euros.

A Bentley representa bem a decadência da indústria britânica. O défice comercial do Reino Unido é de 6.5% e o défice orçamental de quase 10%. Uma economia que se vai mantendo à superfície com o controle de 50% dos off-Shores mundiais, da emissão de dinheiro do nada, da indústria petrolífera, da manipulação das agências de rating e do mundo financeiro, do empurrar dos problemas com a barriga. Até um dia. A inflação é de 4,5% e as perspectivas não são nada risonhas para o Reino Unido. Quando deixar de controlar o mundo financeiro, quando o petróleo acabar ou deixar de ser a principal energia da economia global, quando a Reino Unido e sua majestade deixarem de ser os soberanos de muitos países e ilhas, nomeadamente da Commonwealth cujos países se têm encostado à City de Londres e aos seus tentáculos, mas que sairão da referida organização quando a influência inglesa na economia e no mundo financeiro mundial esmorecer. O capital humano, as excelentes Universidades não conseguirão manter o nível de vida que os britânicos têm hoje...

A Alemanha com o seu crónico excedente comercial tem hoje em dia um papel fulcral e decisivo no futuro da Europa. Os excedentes comerciais anulam-se, a nível mundial, com os défices comerciais.
A Alemanha como superavitária tem que assumir o seu papel e encarregar-se da liderança de uma nova ordem monetária na Europa. Os países meridionais, com as suas contas comerciais deficitárias não aguentam este modelo por muito mais tempo...
A Alemanha no centro da Europa e motor da economia europeia tem que assumir o seu papel de líder.

Tal como em 1944 os EUA, como maior potência económica mundial com excedentes comerciais significativos à custa de um forte índice de industrialização, assumiram o seu papel de líder no sistema financeiro internacional aquando dos acordos de Bretton Woods. O dólar era a moeda de referência mundial e estava fixado ao ouro, com cada Onça Troy (31,1 gramas) a valer 35 dólares americanos.
Os agentes económicos poderiam optar por deter dólares ou trocar por ouro à razão de 35 USD/Onça.

Em meados da década de 60, com o aparecimento dos primeiros défices comerciais nos EUA, a Reserva Federal Americana começou a imprimir moeda "do nada" para manter e estimular a economia, através da ilusão monetária.
A desregrada e excessiva criação da aludida moeda norte-americana e a sua consequente sobrevalorização em relação ao ouro, incentivaram os investidores a acentuar a troca dos seus dólares por ouro. O óbvio aparecimento de inflação agudizaram ainda mais a "depreciação" implícita do USD. As reservas de ouro do Banco Central dos EUA (Reserva Federal) começaram a desaparecer rapidamente e em 1971, Richard Nixon, então presidente dos EUA, suspendeu unilateralmente o sistema de Bretton Woods, cancelando a conversão directa do dólar em ouro. A impressão de dinheiro Fiat nos EUA continua até aos dias de hoje. Nos últimos anos através dos apelidados Quantitative Easings...

A Alemanha está para a economia europeia dos dias de hoje tal como os EUA estavam para a economia mundial em 1944. A Alemanha tem que assumir o seu papel de líder, sob pena de conduzir ao desmoronamento de todo o sistema financeiro da Zona Euro, com consequências incomensuráveis para o velho continente e para o resto do mundo...


Fonte: Financial Times e site da empresa Volkswagen

Paulo Monteiro Rosa, economista, 9 de Julho de 2012

3 comentários:

  1. Excelente artigo Paulo, obrigado!

    Já o disse, é uma pena a Merkel ter tão má fmaa cá no sitio.

    A unica diferença entre os EUA de 1944 e Alemanha de hoje é a fama. Os EUA tinham ganho a guerra e "salvo" o mundo, a Alemanha é a bruxa má da "Austeridade" que todos odeiam.

    Nem sabem que a suposta austeridade é o primeiro e único passo para um crescimento sustentável. Até lá há um longo caminho, temos de voltar a ter produção como a Alemanha tem.

    Basta fazer um benchmark a quem é bom.

    Como o Paulo fez agora.

    Um abraço

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    1. Olá André,

      Plenamente de acordo com o seu comentário.

      O Banco de Portugal divulgou hoje que esperam um excedente comercial já este ano de 2012. Feito inédito em democracia. Há mais de 38 anos que isso não acontecia.

      O Banco de Portugal espera que para o ano de 2013 a Balança de Transacções Correntes também já seja positiva.

      Em suma, a nossa economia já não irá precisar de financiamento externo e passaremos a ser credores... Claro que temos a dívida acumulada para trás e as contas públicas ainda necessitam de muito esforço para voltarem ao equilíbrio. Demorará anos...

      Os denominados sacrifícios, apelidados de austeridade e que não são mais que ajustamentos económicos começam a dar os seus primeiros frutos e de muito boa qualidade.

      A contracção do rendimento disponível, levou os portugueses a comprarem menos produtos importados e também a retraírem-se no consumo interno, tendo as empresas portuguesas que procurar novas zonas geográficas para escoar os seus produtos, quu antes vendiam em Portugal. Algumas empresas com dificuldades nos últimos anos e nomeadamente de há um ano a esta parte conseguiram sobreviver exportando para Angola, Brasil, etc. Ou seja a diminuição do rendimento dispoível culminou na redução das importações e no aumento das exportações.

      A austeridade e crescimento andam de mãos dadas e são face da mesma moeda.

      Quantos aos sacrifícios, estes têm que ser distribuídos criteriosamente. As pessoas que têm emprego se receberem menos 10 ou 20% poderão continuar, ainda com dificuldades bastante significativas, refazer e reformular os seus gastos. Mas as pessoas que vão para o desemprego, principalmente quando fecha uma empresa onde trabalha marido e mulher, o problema agudiza-se exponencialmente e urge resolver o problema do desemprego. Os seres humanos não são números...

      Um abraço,
      Paulo Monteiro Rosa

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    2. Mais André,

      Foi preciso vir a troika para termos o primeiro excedente comercial em democracia. Consumirmos menos do que aquilo que produzimos.

      A troika é dita regras e imposições. A troika dita metas a atingir. A troika é uma ditadura? Não. Apenas se pauta pelo rigor e pelo crescimento económico sustentável...

      Abraço

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.